terça-feira, 17 de julho de 2012

A árvore do conhecimento humano


Proposta de instalação:

O espaço real escolhido será qualquer árvore que fica perto da via pública, cujas folhas outonais estão ao chão e esta pode ser vista por todos os transeuntes que ali passarem a pé, motorizados ou de bicicletas. A intencionalidade é atrair a atenção destas pessoas para os valores comumente esquecidos na atualidade, lembrando-os que a verdade, a gentileza e o amor ágape potencializam a vida humana, sem menosprezar, inferiorizar ou machucar o outro.
Neste contexto pretende-se trabalhar com as ideias de Maturana (1995), ao afirmar que o ser humano ainda não consegue aprender a conviver com o outro, viver em harmonia, respeito e integridade, assimilando que somos seres biológicos e auto-organizados, nossa vida é um processo de ciclos que renovam-se continuamente, se pensarmos em nossa pele veremos que ela modifica-se incessantemente, células mortas são por nós expelidas a centenas diariamente, mesmo assim, ainda há seres humanos que se sentem superiores ao outro, acreditam que por possuírem um bem material ou um conhecimento mais alargado tem o direito de ser promíscuos, mentirosos e perversos com os demais.
Sabedoria adquire-se com a vida, porém, só aprende quem possui humildade e integridade junto ao outro.

É possível explicar a grande dificuldade de poder atingir um desenvolvimento social harmônico e estável (aqui e em qualquer parte do mundo) através do vazio de conhecimentos do ser humano sobre a sua própria natureza? Noutras palavras, será possível que nossa grande eficácia para viver nos mais diversos ambientes se veja eclipsada e por fim anulada diante de nossa incapacidade para conviver com os outros? Será possível que a humanidade, tendo conquistado todos os ambientes da Terra (inclusive o espaço extraterrestre), possa estar chegando ao fim, enquanto nossa civilização se vê diante do risco real de extinção, só porque o ser humano ainda não conseguiu conquistar a si mesmo, compreender sua natureza e agir a partir desse entendimento? (MATURANA, VARELA, p. 14, 1995).

Em 1987 tais palavras foram escritas e publicadas pela primeira vez, e o que mudou-se? Ainda estamos imersos num mundo onde a ênfase recai sobre o ter em detrimento do ser, as pessoas esqueceram-se do valor das mínimas coisas como o pôr do sol, uma conversa com os filhos e/ou pais, ouvir ao invés de falar, ser honesto sem machucar; só para exemplificar. As gerações estão destituídas de valores que regem a vida harmônica, não se apercebem de que o mal feito prejudica a si e ao outro; assim como a palavra dita jamais retornará todo mal feito continuará a massacrar e abrir cicatrizes no intelecto de quem o sofreu.
Talvez estejamos imersos e afogando-nos numa crise social, onde não se consegue mais conviver com esta falta de organização e descaso humano, a drogadição, a prostituição, a juventude desenfreada, a violência, os suicídios, os homicídios, a obesidade, a anorexia, a infelicidade e a desertificação da alma, causam mais dor e sofrimento do que estamos aptos a suportar, nesta instalação faz-se um convite a puxar o “freio de mão”, readquirir o controle da própria vida e parar, observar a dança dos pássaros que trazem em seus bicos palavras para reflexão. Refletir na concepção filosófica deleuziana que trata-se de olhar a si através de uma outra ótica, indagando e questionando-se para apreender onde estamos falhando.
Neste ínterim a culpa não esta presente, pois procurar culpados ou culpar-se impede a análise, a observação e o estudo que, neste caso, será desencadeado pela visualização de uma árvore sem folhas, repleta de pássaros artificiais presos em seus galhos, carregando em seus bicos palavras que transmitem a ideia de valores esquecidos, ou quando usados destituídos de seu real significado: gentileza, coragem, equilíbrio, sabedoria, respeito, autenticidade, alegria, paixão e amor.
Nesta dança simbólica do voo dos pássaros, pretende-se provocar a ação de parar, mesmo que seja por ínfimos segundos e pensar realmente sobre: O que é a vida? Como estou vivendo neste mundo? Será que o mínimo problema que surge me faz cair sem conseguir retornar e levantar? Enfim, tal provocação talvez seja mais interna a meus dilemas do que social, pela dificuldade que sinto em aceitar este mundo destituído de responsabilidades e repleto pela esquizofrenia dos movimentos, das ações e da maldade inconsequente, ao invés de questionar o outro (ser humano) que aceita tudo isto como a única forma de vida possível. Paira em minha mente, dentro das minhas entranhas, o seguinte questionamento: será que a alienação tomou conta da humanidade?
Se de fato a alienação tomou conta da grande maioria dos humanos, estamos desencadeando para a morte deste ser como conhecemos e teremos que, forçosamente, nos adaptar a um novo contexto outro humano promíscuo, perverso e egocêntrico. O nó da problemática está na incapacidade do humano conhecer-se, pois para existir o autoconhecimento é necessário trabalhar com a solidão, ficar consigo mesmo e por mais doloroso que possa ser questionar suas próprias verdades.


Referências:


MATURANA, Humberto; VARELA, Francisco. A Árvore do Conhecimento: as bases biológicas do entendimento humano. Trad. Jonas Pereira dos Santos. Campinas: São Paulo. WORKSHOPSY - Livraria, Editora e Promotora de Eventos, 1995.

Carlos Castaneda, The Teachings of Don Juan. In CAPRA, Fritjof. O Tao da Física. Porto, Lisboa, 1989.