Proposta de instalação:
O espaço real escolhido será
qualquer árvore que fica perto da via pública, cujas folhas outonais estão ao
chão e esta pode ser vista por todos os transeuntes que ali passarem a pé,
motorizados ou de bicicletas. A intencionalidade é atrair a atenção destas
pessoas para os valores comumente esquecidos na atualidade, lembrando-os que a
verdade, a gentileza e o amor ágape potencializam a vida humana, sem
menosprezar, inferiorizar ou machucar o outro.
Neste contexto pretende-se trabalhar com as
ideias de Maturana (1995), ao afirmar que o ser humano ainda não consegue
aprender a conviver com o outro, viver em harmonia, respeito e integridade,
assimilando que somos seres biológicos e auto-organizados, nossa vida é um
processo de ciclos que renovam-se continuamente, se pensarmos em nossa pele
veremos que ela modifica-se incessantemente, células mortas são por nós
expelidas a centenas diariamente, mesmo assim, ainda há seres humanos que se
sentem superiores ao outro, acreditam que por possuírem um bem material ou um conhecimento
mais alargado tem o direito de ser promíscuos, mentirosos e perversos com os
demais.
Sabedoria adquire-se com a vida, porém, só aprende quem possui humildade e
integridade junto ao outro.
É possível explicar a grande dificuldade de poder atingir
um desenvolvimento social harmônico e estável (aqui e em qualquer parte do
mundo) através do vazio de conhecimentos do ser humano sobre a sua própria
natureza? Noutras palavras, será possível que nossa grande eficácia para viver
nos mais diversos ambientes se veja eclipsada e por fim anulada diante de nossa
incapacidade para conviver com os outros? Será possível que a humanidade, tendo
conquistado todos os ambientes da Terra (inclusive o espaço extraterrestre),
possa estar chegando ao fim, enquanto nossa civilização se vê diante do risco
real de extinção, só porque o ser humano ainda não conseguiu conquistar a si
mesmo, compreender sua natureza e agir a partir desse entendimento? (MATURANA,
VARELA, p. 14, 1995).
Em 1987 tais palavras foram escritas e publicadas
pela primeira vez, e o que mudou-se? Ainda estamos imersos num mundo onde a
ênfase recai sobre o ter em detrimento do ser, as pessoas esqueceram-se do
valor das mínimas coisas como o pôr do sol, uma conversa com os filhos e/ou
pais, ouvir ao invés de falar, ser honesto sem machucar; só para exemplificar.
As gerações estão destituídas de valores que regem a vida harmônica, não se
apercebem de que o mal feito prejudica a si e ao outro; assim como a palavra
dita jamais retornará todo mal feito continuará a massacrar e abrir cicatrizes
no intelecto de quem o sofreu.
Talvez estejamos imersos e afogando-nos numa
crise social, onde não se consegue mais conviver com esta falta de organização
e descaso humano, a drogadição, a prostituição, a juventude desenfreada, a
violência, os suicídios, os homicídios, a obesidade, a anorexia, a infelicidade
e a desertificação da alma, causam mais dor e sofrimento do que estamos aptos a
suportar, nesta instalação faz-se um convite a puxar o “freio de mão”,
readquirir o controle da própria vida e parar, observar a dança dos pássaros
que trazem em seus bicos palavras para reflexão. Refletir na concepção
filosófica deleuziana que trata-se de olhar a si através de uma outra ótica,
indagando e questionando-se para apreender onde estamos falhando.
Neste ínterim a culpa não esta presente, pois
procurar culpados ou culpar-se impede a análise, a observação e o estudo que,
neste caso, será desencadeado pela visualização de uma árvore sem folhas,
repleta de pássaros artificiais presos em seus galhos, carregando em seus bicos
palavras que transmitem a ideia de valores esquecidos, ou quando usados
destituídos de seu real significado: gentileza, coragem, equilíbrio, sabedoria,
respeito, autenticidade, alegria, paixão e amor.
Nesta dança simbólica do voo dos pássaros,
pretende-se provocar a ação de parar, mesmo que seja por ínfimos segundos e
pensar realmente sobre: O que é a vida? Como estou vivendo neste mundo? Será
que o mínimo problema que surge me faz cair sem conseguir retornar e levantar?
Enfim, tal provocação talvez seja mais interna a meus dilemas do que social,
pela dificuldade que sinto em aceitar este mundo destituído de
responsabilidades e repleto pela esquizofrenia dos movimentos, das ações e da
maldade inconsequente, ao invés de questionar o outro (ser humano) que aceita
tudo isto como a única forma de vida possível. Paira em minha mente, dentro das
minhas entranhas, o seguinte questionamento: será que a alienação tomou conta
da humanidade?
Se de fato a alienação tomou conta da grande
maioria dos humanos, estamos desencadeando para a morte deste ser como
conhecemos e teremos que, forçosamente, nos adaptar a um novo contexto outro
humano promíscuo, perverso e egocêntrico. O nó da problemática está na
incapacidade do humano conhecer-se, pois para existir o autoconhecimento é
necessário trabalhar com a solidão, ficar consigo mesmo e por mais doloroso que
possa ser questionar suas próprias verdades.
Referências:
MATURANA, Humberto;
VARELA, Francisco. A Árvore do
Conhecimento: as bases biológicas do entendimento humano. Trad. Jonas
Pereira dos Santos. Campinas: São Paulo. WORKSHOPSY - Livraria, Editora e
Promotora de Eventos, 1995.
Carlos Castaneda, The Teachings of Don Juan. In
CAPRA, Fritjof. O Tao da Física. Porto,
Lisboa, 1989.