domingo, 18 de abril de 2010

Andante



Andante... o que é andar? Caminhar? Seguir? Prosseguir? Encontrar novos e revisitar velhos caminhos, foi uma sensação de descoberta, mexer no barro, tocar nas formas, produzir sentidos a partir da criação, ver o que gostamos através de uma outra ótica, uma nova forma de interagir neste mundo, tudo são desafios que podem ser superados, escolher obras de arte e transformá-las materialmente, um momento angustiante, pois tenho uma tendência de preferir obras surrealista, mas como colocá-las em uma base de EVA e montar formas? Comecei minha procura, esqueci de Salvador Dalí (quem eu prefiro), lembrei então de artistas que estudamos nos semestres anteriores e optei por estes: Escher, Paul Klee e Alfredo Volpi, as obras foram escolhidas por traços mais simples e plausíveis de construção no emborrachado, o processo de escolha, fragmentação de uma parte da obra, transferência e recorte do desenho foram os mais interessantes, mexer na argila, sová-la, organizá-la, indignar-se com a sujeira e prensar o formato foram momentos indescritíveis e a minha real vontade era por debaixo do braço os chinelos e caminhar pelos mais diferentes lugares, juntá-los ao do professor Carusto e seguir o nosso trajeto com meus diferentes colegas neste curso fascinante e irreverente de Artes Visuais. Foi novamente um prazer. Acredito que meus trabalhos ainda se caracterizam por traços infantis, pois estão sendo a primeira oportunidade em mexer com argila que até então tive.


domingo, 4 de abril de 2010

Reflexões...

Chave de boca, tesoura, elástico...
Pode até parecer uma escolha estranha, já que não sou mecânico, marceneiro ou eletricista, “apenas” uma simples professora, para quem observa de longe pode significar diferentes trajetórias, pensando bem, no que se encaixa uma chave de boca na educação?
Na minha concepção, e este é o motivo real da escolha, a possibilidade da mudança, de consertar, reinventar objetos, talvez a escolha seja subjetiva como todas as nossas escolhas, foi uma maneira sutil para me apresentar neste ano e os desafios que estão postos na minha frente e preciso superar.
Desafios... são maneiras de crescer e perceber o quanto somos capazes de superar os medos, as angústias, e lidar com maior facilidade com as frustrações, compreender que é preciso apertar as “porcas”, rever as amarras e não deixar nada “frouxo” que possa desprender-se e ocasionar múltiplos perigos.
Percebe-se nos objetos escolhidos a solidez, durabilidade, versatilidade e possibilidades.
Uma tesoura? Sim, uma tesoura! Por quê? Para quê?
Diz-se que para facilitar a vida necessitamos cortar pregas que estão impedindo nosso crescimento pessoal, tanto sentimental, quanto intelectual.
A tesoura não subtrai a arrogância que contempla nossa natureza, não retira a mágoa, nem humaniza o desumano, mas auxilia-nos a ser cada vez mais ousados na busca de nossos projetos pessoais.
À medida que a chave de boca serve para apertar o que esta frouxo, soltando-se e que necessita de reparo, a tesoura corta e desamarra o que nos impede de crescer intelectualmente, mas para que estes instrumentos sejam significativos é imprescindível à flexibilidade de um elástico, uma “borrachinha” para prender, desprender, mudar a forma e criar novas formas de viver.
A construção social da realidade ultrapassa a lógica da narrativa moderna e vai-se ao encontro do pós-moderno, uma nova narrativa social. Consertar, desprender, flexibilizar as relações sociais, reorganizando a lógica psíquico-pessoal.

Objetivos artísticos...
O que me humaniza? Como sou vista, dita e compreendida pelo outro? Sim, sou humano, mas como se meus sonhos são castrados, podados, esmagados, sobre a ótica social excludente! Aquilo que sou nem sempre é o que o outro vê e elabora sobre mim, meu objetivo era fugir do idealismo e ser percebida como um ser humano com defeitos, medos, inconstâncias, diferenças, despida de marcas e papéis sociais, neste processo tentei me ver de outro ângulo, aquele que é pessoal, limitado e errôneo, como diria Saramago (2008), em seu livro “Ensaio sobre a Cegueira”, ao questionar o que os deixou cego, ao escrever as últimas linhas de seu romance, diz: “Por que foi que cegamos. Não sei, talvez um dia se chegue a conhecer a razão. Queres que te diga o que penso, Diz, Penso que não cegamos, penso que estamos cegos, Cegos que vêem. Cegos que, vendo, não vêem”. (pág. 310) Tirar a venda de meus olhos e ver-me de outra ótica...

Expor... o meu, o seu, o nosso, o coletivo educacional...
Expor algo é muito mais complexo do que simplesmente organizar murais com imagens, escrever um artigo e publicar no jornal de circulação regional, é mostrar-se de outros ângulos, instigar o outro a observar, perceber e interpretar o que está diante de seus olhos, que penetrou em sua retina e conduz a uma imagem. O ser humano é agente intencional e reflexivo, possui: capacidade simbolizadora, de previsão, auto-reguladora e de reflexão. Olhar o trabalho do outro conduz a inúmeras percepções, é colocar-se no lugar que o outro se pôs para criar...
Mas... retomando um pouco pode-se dizer que a escola surge como instrumento de manipulação social capaz de manter uma determinada forma cultural elitista, para apaziguar possíveis conflitos sociais, tendo um ideal positivista que reduz a educação ao doutrinamento, seguindo conteúdos pré-determinados, porém, cabe lembrar que não é apenas na escola que ocorre a educação.
É importante destacar que vivemos uma época nunca dantes vista na educação, onde há um enaltecimento por práticas neo-liberais que visam a globalização, onde contracenam a provisoriedade do conhecimento, a efemeridade do trabalho, a coexistência de diferentes tempos culturais, a avalanche de tecnologias, que, de alguma maneira, desafiam/(re)tardam a (re)descoberta de novos referenciais para as instituições de ensino.
É interessante ressaltar, que todo esse ambiente de mudanças e incertezas, cujo desenrolar futuro ninguém pode prever, representa o contexto no qual se dá a educação. Não é necessário dizer que todas essas transformações (éticas, estéticas, epistemológicas) afetam o ser humano, bem como as suas formas de conhecer, sentir e de crer e, por consequência, afetam e transformam o cenário educativo. A pergunta que não quer calar e que carece de respostas é: Como educar hoje? No entanto, para esta pergunta nem educadores, nem especialistas conseguem encontrar uma resposta satisfatória sozinhos.
A nossa responsabilidade, enquanto educadores, não pode ser separada das consequências do conhecimento/ideologias que produzimos e que disseminamos entre os/as estudantes, somente um trabalho crítico, coletivo e processual pode levar-nos a compreender e intervir em problemas que emanam dos contextos diversos/diferenciados da existência cotidiana.
Qual forma mais interessante de instigar os alunos a pensarem sobre si em meio a este tumultuado campo social, que não através das Artes? O prensauto pode ser construído com base em diferentes objetivos, o meu foi mostrar-me nua, despida, simplesmente como eu sou, não poderia ser feita então uma exposição sob o tema “Identidade”, mas este é um tema comum, muito difundido, quem sabe falar em “Ser – do desumano ao humano!”, inverter papéis para perceber o que perdemos nesta construção social e reorganizar a ação humana. Esta é a minha ideia de uma exposição, que poderia ser feita num corredor, passos, um pé diante de outro, tendo uma pequena lâmpada que ilumine a partir do dedão, paredes nuas caiadas, envelhecidas, o teto a imagem noturna de uma noite nublada e fria comum em nossa região, no final deste corredor poder-se-ia colocar outras marcas, os objetos utilizados nos prensautos com um pequeno texto significando-os, na parede final a imagem de todos os pés utilizados durante o trabalho e o tema da exposição no meio em destaque.
Por que expor de tal maneira? Por que criar um caminho? Para mostrar que apesar de toda a complexidade e a dificuldade que vivemos dia após dia ainda é possível sermos pessoas melhores e mais humanas. Voltamos a nos ver nus, para sim, preenchermo-nos com as inúmeras vestes que colocamos a cada dia... filha, mãe, professora, aluna, doméstica., cozinheira, pai, avó, avô, neto, criança, adulto, humano...



Eu...

Eu... o que mais me incomoda em falar sobre mim é o fato de não ser, mas estar sendo... se hoje sou jovem, amanhã não o serei, o que hoje acredito pode ser ressignificado, transformado e posto em dúvida. Estou sendo filha, irmã, professora, amiga, estudante, companheira na dor e nas horas boas, motorista, ciclista, sonhadora, sentimental, exigente, detalhista, autonoma... por sua vez e tantas outras imperfeita. As vezes me sinto só, a angústia, o medo e o pavor invadem meu ser e esqueço, não! Tento esquecer daquilo que me faz sofrer... encaro os problemas, erro, acerto, perco, ganho, amo, odeio... vivo em meio a sentimentos contraditórios, face a face, esta sou EU um ser em constante processo de transformação, pois, sempre há dúvidas!

Prensauto - objeto auto-biográfico



Muito mais do que desafiador, um fato inédito em minha vida: elaborar um diário, escrever sentimentos, reações, inconstâncias que são tão próprias da espécie humana, um suspiro, um ar de angústia, um grito entalado na garganta... enfim uma escolha, objetos que me acompanham nesta caminhada que é viver... a chave de boca para ultrapassar barreiras que interferem na conquista de meus sonhos, apertar porcas e colocar em ordem esta desordem cotidiana que é o mundo; um pincel para dar formas e cores aos dias cinzas e melancólicos; elásticos para compreender que somos mutáveis e necessitamos aprender a articular com as problemas do mundo e da educação; lápis e borracha para traçar desejos e apagar falhas e, por fim, a tesoura para ajudar-nos a libertar-nos das amarras de uma mundo sisudo e infeliz.