domingo, 8 de novembro de 2009

Educação e Autoridade Lya Luft

Lya Luft



Educação e autoridade


"Um não na hora certa é necessário, e mais


que isso: é saudável e prepara bem mais


para a realidade da vida”



Antes de uma palestra sobre Educação para algumas centenas de professores, um jornalista me indagou qual o tema que eu havia escolhido. Quando eu disse: Educação e Autoridade, ele piscou, parecendo curioso: "Autoridade mesmo, tipo isso aqui pode, aquilo não pode?". Achei graça, entendendo sua perplexidade. Pois o tema autoridade começa a ser um verdadeiro tabu entre nós, fruto menos brilhante do período do "É proibido proibir", que resultou em algumas coisas positivas e em alguns desastres – como a atual crise de autoridade na família e na escola. Coloco nessa ordem, pois, clichê simplório porém realista, tudo começa em casa.

Na década de 60 chegaram ao Brasil algumas teorias nem sempre bem entendidas e bem aplicadas. O "é proibido proibir", junto com uma espécie de vale-tudo. Alguns psicólogos e educadores nos disseram que não devíamos censurar nem limitar nossas crianças: elas ficariam traumatizadas. Tudo passava a ser permitido, achávamos graça das piores más-criações como se fossem sinal de inteligência ou personalidade. "Meu filho tem uma personalidade forte" queria dizer: "É mal-educado, grosseiro, não consigo lidar com ele". Resultado, crianças e adolescentes insuportáveis, pais confusos e professores atônitos: como controlar a má-criação dos que chegam às escolas, se uma censura séria por uma atitude grave pode provocar indignação e até processo de parte dos pais? Quem agora acharia graça seria eu, mas não é de rir.

Gente de bom senso advertiu, muitos ignoraram, mas os pais que não entraram nessa mantiveram famílias em que reina um convívio afetuoso com respeito, civilidade e bom humor. Negar a necessidade de ordem e disciplina promove hostilidade, grosseria e angústia. Os pais, por mais moderninhos que sejam, no fundo sabem que algo vai mal. Quem dá forma ao mundo ainda informe de uma criança e um pré-adolescente são os adultos. Se eles se guiarem por receitas negativas de como educar – possivelmente não educando –, a agres-sividade e a inquietação dos filhos crescerão mais e mais, na medida em que eles se sentirem desprotegidos e desamados, porque ninguém se importa em lhes dar limites. Falta de limites, acreditem, é sentida e funciona como desinteresse.

Um não é necessário na hora certa, e mais que isso: é saudável e prepara bem mais para a realidade da vida (que não é sempre gentil, mas dá muita porrada) do que a negligência de uma educação liberal demais, que é deseducação. Quem ama cuida, repito interminavelmente, porque acredito nisso. Cuidar dá trabalho, é responsabilidade, e nem sempre é agradável ou divertido. Pobres pais atormentados, pobres professores insultados, e colegas maltratados. Mas, sobretudo, pobres crianças e jovenzinhos malcriados, que vão demorar bem mais para encontrar seu lugar no grupo, na comunidade, na sociedade maior, e no vasto mundo.

Não acho graça nesse assunto. Meus anos de vida e vivência mostraram que a meninada, que faz na escola ou nas ruas e festas uma baderna que ultrapassa o divertimento natural ao seu desenvolvimento mental e emocional, geralmente vem de casas onde tudo vale. Onde os filhos mandam e os pais se encolhem, ou estão mais preocupados em ser jovenzinhos, fortões, divertidos ou gostosas do que em ser para os filhos de qualquer idade algo mais do que caras legais: aquela figura à qual, na hora do problema mais sério, os filhos podem recorrer porque nela vão encontrar segurança, proteção, ombro, colo, uma boa escuta e uma boa palavra.

Não precisamos muito mais do que isso para vir a ser jovens adultos produtivos, razoavelmente bem inseridos em nosso meio, com capacidade de trabalho, crescimento, convívio saudável e companheirismo e, mais que tudo, isso que vem faltando em famílias, escolas e salas de aula: uma visão esperançosa das coisas. Nesta época da correria, do barulho, da altíssima competitividade, da perplexidade com novos padrões – às vezes confusos depois de se terem quebrado os antigos, que em geral já não serviam –, temos muita agitação, mas precisamos de mais alegria.

Revista virtual, acesso em: http://veja.abril.com.br/230909/educacao-autoridade-p-026.shtml. 08 de novembro de 2009, às 12h50min.

Aprender a dizer não e conduzir com correção nossos filhos e alunos a encararem este mundo mutável e excludente é um dos passos mais significativos e difíceis que temos para enfrentar na atualidade, a vida é uma estrada, qual o rumo que devemos tomar? Só não temos o direito de parar e esperar que tudo ocorra sem que haja a correta condução, há tantas belezas para serem vistas, precisamos aprender a olhar.

Fotografia: Jésica Hencke

Educação e Autoridade

AVANÇOS TECNOLÓGICOS DOS MEIOS DE COMUNICAÇÃO, INFORMAÇÃO E TRANSPORTE - O ENCURTAMENTO DO MUNDO

Jésica Hencke (texto e fotografia)







Neste último século e no presente, sofremos e continuamos a sofrer transformações de caráter tecnológico e em especial sobre a tecnologia da informação, que demonstrou grande impacto e reconhecimento através da internet, ou seja, a comunicação em rede em que é possível perceber o encurtamento do mundo e inexistência de fronteiras, onde uma mesma mensagem pode percorrer o mundo em frações de segundos. Vivemos em um mundo digital, onde a informação é gerada, armazenada, recuperada, processada e transmitida a todos que a ela tiverem acesso ou recursos financeiros que lhe permitam adquirir o presente recurso tecnológico, que ainda demonstra custos elevados e inacessíveis a grande parte da população.
A tecnologia da informação quando transformada em conhecimento, configura-se em instrumentos fundamentais e peças centrais na atual revolução tecnológica, devido a sua responsabilidade de permear a construção e reconstrução de novos saberes, junto ao trabalho educativo e social em um ciclo de uso e inovação, compõem-se não apenas de ferramentas a serem aplicadas e sim processos a serem desenvolvidos, pois não é mais suficiente informar é imprescindível formar cidadãos conscientes e críticos, capazes de atuar socialmente de maneira coerente e dinâmica.
A atual tecnologia da informação teve uma rápida difusão, porém esta não atingiu todas as esferas sociais, seu processo foi seletivo, aumentando ainda mais as diferenças sociais, excluindo desta forma, diariamente, novos indivíduos.
Pode ser definida como um novo paradigma, e apresenta diversas característica, tendo a informação como a matéria-prima , a tecnologia pode agir sobre esta, da mesma forma que a informação pode agir sobre a tecnologia, ao mesmo tempo a informação é constituinte e integrada a atividade humana e apresenta uma certa “penetrabilidade dos efeitos das novas tecnologias”; para garantir a flexibilidade e a constante troca de informação a lógica das redes de comunicação é fundamental; sendo outro ponto relevante, a flexibilidade que permite a mudança constante e reorganização e esta pode ser programada e re-programada.
Em síntese, pode-se dizer, que as constantes transformações criadas pelos seres humanos estão afetando diariamente o modelo de vida da maioria da população e modificando suas perspectivas de futuro, em alguns casos facilitando a vida, em outros, massificando e hierarquizando cada vez mais as relações sociais, onde as diferenças de poder aquisitivo e a miséria serão ampliadas e amplamente difundidas e menosprezadas.
Passaremos agora, a apontar alguns pontos principais de nosso estudo sobre o tema proposto: Avanços Tecnológicos dos Meios de Comunicação, Informação e Transporte - o encurtamento do mundo.


II REVOLUÇÃO INDUSTRIAL
(SÉC. XIX)

Antecedentes

* expansão do capitalismo - liberalismo;
* aumento da produção;
* descobertas científicas - desenvolvimento industrial;
* desenvolvimento dos meios de produção agrícola e industrial;
* migrações;
* neo-colonialismo.

Uma Nova Revolução
(1870-1914)

* os trabalhadores entram em cena;
* no Brasil: monopólio do café;
* o desenvolvimento capitalista nos Estados Unidos da América;
* a nova partilha do mundo;
* idéia de progresso de Baudelaire;
* Feiras Mundiais.

MEIOS DE COMUNICAÇÃO

A humanidade nunca lidou com a quantidade de informações que está circulando nos meios de difusão de informação e de tecnologia como no presente século, como por exemplo: livros, rádio, televisão, jornais, revistas, internet, historinhas em quadrinhos, autdoors, propagandas... as pessoas tanto no meio urbano como rural estão mergulhadas em um oceano de informações.
Encontramos informações por todos os lados e desta forma, é extremamente necessário, mudanças constantes no trabalho e formação continuada aos funcionários ou técnicos em alguma área de atuação.
A educação na atualidade precisa ser mais voltada à formação integral do cidadão. A educação no século 21, conforme Fernando Rossetti, não pode mais se contentar em transmitir informações, é fundamental que esta seja transformada em conhecimento, em ação, em habilidades e competências que habilite os educandos a lidarem com a grande demanda de informação existente, com as rápidas transformações nos modos de produção, e instrumentalizá-los a realizarem um projeto de vida e de sociedade.
O desenvolvimento tecnológico acarretou inúmeras transformações na sociedade contemporânea, principalmente nas duas últimas décadas. Cada vez mais a linguagem cultural inclui o uso de diversos recursos tecnológicos para produzir processos comunicativos.

Recursos tecnológicos:
* Meios gráficos;
* Meios audiovisuais;
* Multimídia.

* Disponibilizam dados e informações que: permitem novas formas de comunicação e de ordenação da experiência humana, com múltiplos reflexos particularmente no que se refere a produção de conhecimento e na atuação humana sobre o meio e sobre si mesmo.

* Geram transformações:
na consciência individual;
na percepção de mundo;
nos valores;
nas formas de atuação social.

* Demandam adequação cultural:
forma de uso de cada meio;
restrição de acesso às inovações;
influência do poder econômico.

A forma como cada indivíduo participa dos processos comunicativos varia em função da capacidade de analisar e relacionar informações, e de uma atitude crítica frente à fonte de informações.

INFORMAÇÃO


* Sociedade da informação - o presente termo decorre de uma revolução tecnológica , tendo potencial para alterar a médio prazo, muitos aspectos que configuram a vida cotidiana. é possível perceber diversos elementos determinantes para esta transformação, porém é importante destacar o fato de que a “Computação e a Comunicação estão diretamente ligadas a dois objetos tecnológicos que proporcionam a esse crescimento uma velocidade nunca vista: micro-computador e rede de internet.” O novo paradigma, ou a tecnologia da informação surge para abarcar as necessidade evidenciadas em uma sociedade conturbada e constantemente afetada pelas transformações tecnológicas, ocasionadas pelos seres humanos, trata-se de um mundo globalizado, conectado em rede através da internet que proporciona uma constante troca e produção de informações, para posteriormente, serem transformadas em conhecimentos.

* Tecnologia da informação - expressa a essência da presente transformação tecnológica em suas relações com a economia e a sociedade, tendo como pontos principais:
* A informação é sua matéria prima: surge para proporcionar ao ser humano uma atuação sobre a informação, não como era necessário há alguns séculos atrás, onde o importante era agir sobre as tecnologias com auxílio da informação.
* Os efeitos das novas tecnologias têm alta penetrabilidade: a informação é parte integrante de toda atividade humana, por isto, devido às transformações sociais e tecnológicas, tendem a ser afetadas e modificadas constantemente.
* Predomínio da lógica de redes: trata-se de uma lógica de relações complexas que valorizam e tornam dinâmica a convivência entre os sujeitos através de recursos tecnológicos, potencializando assim a ampliação da globalização, a utilização da expressão “o encurtamento do mundo” e a diminuição das distâncias;
* Flexibilidade: é a possibilidade de reversão, reorganização e reconfiguração, ou melhor, “voltar atrás” permite errar e restituir o erro sem prejuízos.
* Crescente convergência de tecnologias: trata-se de um “andar junto”, em que as diversas transformações tecnológicas estão ocorrendo de maneira interconectada.

* Diferença de abrangência nas “camadas” sociais: a abrangência e o ritmo em que estas novas tecnologias assumem, apresenta um gradativo aumento das diferenças sociais, as desigualdades de renda e de desenvolvimento industrial entre os povos e grupos da sociedade reproduzem-se no novo paradigma, como: desemprego, falta de possibilidades de integrar-se no mercado de trabalho cada vez mais exigente, dificuldade ao acesso à informação, e muitos outros casos, como a massificação e a alienação social.

* Sociedade em rede: instrumento potencializador da interação, do ensino aprendizagem numa perspectiva cooperativa, contínua e individual, que possibilite a incorporação da mudança sendo está difundida socialmente.

* Educação à distância;

* Informação e conhecimento:
Informação é criada através da interpretação dos dados. Os dados são na verdade transmitidos e levados a indivíduos, mas não se transformam em informação até que estes indivíduos os tenham selecionado e processado por intermédio da interpretação. É portanto possível ter grandes quantidade de dados sem que se consiga qualquer informação. A interpretação apropriada acontece de um modo diferente para cada indivíduo e leva também a resultados diferentes, porque toda a história de vida dos indivíduos envolvidos influencia os processos: suas necessidades e emoções, seus conhecimentos, interesses e socialização, mas também sua imaginação e ideologias.” (PETERS, Otto. p. 288 - 289)

Significado da palavra informação na tecnologia da comunicação:
“Informação aqui é algo que é derivado de dados transmitidos, sinais ou conseqüências de sinais.”
Otto Peters

Desafios na construção de sociedades de informação:
* desafios éticos;
* aspectos perniciosos da tecnologia virtual - propagandas
* desemprego tecnológico;
* desqualificação do trabalho, para as camadas sociais menos favorecidas que não possuem acesso e estão a margem das transformações sociais;
* perda da privacidade;
* aprofundamento das desigualdades sociais;
* “tensões entre as culturas”;
* cooperação internacional;
* fortalecimento das redes.

“As novas tecnologias da informação não são simplesmente ferramentas a serem aplicadas, mas processos a serem desenvolvidos.”
Manuel Castells


TRANSPORTES

Com a necessidade de mais flexibilidade e movimento, o ser humano investiu em sua criatividade e construiu os mais variados estilos de transportes, que anualmente, devido as novas tecnologias e transformações sociais, bem como o aumento da população, sofrem modificações e adaptações para melhorar a vida na atualidade.

Estilo de vida - níveis de tecnologia:
- utilizados pela sociedade primitivas
X
- vida do homem moderno

Progresso tecnológico:
* invenção da roda;
* invenção de motores automotivos;
* invenção de motores de combustão interna;
* turbinas a jato.

Problemas decorrentes dos avanços tecnológicos:
* congestionamentos;
* problemas ambientais (efeito estufa).

Outros saltos tecnológicos:
* lançamento de satélites;
* lançamento de foguetes.

Em vista destas transformações tecnológicas, a educação formal escolar e o corpo docente não podem “parar no tempo” devem sim, estar em processo constante de atualização, é preciso que estes desenvolvam capacidade criativa para inovar e gestar alternativas para transformar seu trabalho docente em algo efetivamente importante para o desenvolvimento cognitivo do educando, apresentando flexibilidade em suas ações demonstrando conhecimentos, competências e interesse para apropriar-se das novas tecnologias ao mesmo tempo que não desprezem os outros instrumentos ou meios de fomentar a educação, assim sendo, temos consciência da necessidade da mudança, desde que, esta seja valorativa aos seres humanos.

Referências Bibliográficas:
CASTELLS, Manuel. A Era da Informação: economia, sociedade e cultura. Volume 1: A Sociedade em Rede. 5ª edição. Paz e Terra. São Paulo - Sp, 1999.
PETERS, Otto. Informação e Conhecimento. In: ________. A Universidade do Futuro



sexta-feira, 7 de agosto de 2009

ENTRE OS MUROS DA ESCOLA

Muros? Quantos muros criamos dentro de nosso intelecto, psicologicamente somos construtores de muros, aprisionamos sonhos, ideias, deixamos tudo guardadinho entre paredes de concreto no nosso subconsciente. Queremos esconder nossa identidade, vivemos colocando e retirando máscaras, socialmente representamos inúmeros papéis, somos filhos, pais, mães, irmãos, professores, colegas, amigos, uma gama de papéis para uma única personalidade.
Aqui nos deparamos com o filme “Entre os muros da Escola”, uma sala de aula, alunos adolescentes, professores instigadores porém desestimulados e cansados com a organização escolar, tentam achar alternativas para mudar aquele modelo educacional, mas, conseguem?
Podemos relatar de antemão que aquela realidade retratada no filme se aproxima muito do cotidiano que temos aqui, vemos alunos desmotivados com o processo educativo pelo qual eles passam, professores em “colapso” nervoso, pois suas aulas não estão “rendendo bons frutos”, propostas pedagógicas atuais que prezam a interação e o diálogo mal conduzidas em que o foco central da aprendizagem distancia-se das efetivas aulas.
Alunos e professores são pessoas comuns, que se apresentam com suas prisões psicológicas, mostram somente o que o outro poderá ver, e isto muitas vezes causa rótulos, discriminações. Percebe-se que a tentativa de diálogo existe, mas nem sempre o que o professor fala é entendido pelo aluno e o mesmo ocorre invertendo-se os papéis.
Alunos e professores são humanos, com muros intelectuais, seus dilemas sociais, unidos em um mesmo ambiente a escola e o exato espaço das micro-relações - a sala de aula. O professor tem princípios e a sua fala não “atinge” os alunos, o exercício do diálogo não acontece democraticamente.
Ao trabalhar com um fragmento do livro O Diário de Anne Frank, valeu-se deste como um pretexto para fazer com que os alunos “quebrassem o gelo” e passassem a refletir sobre a sua própria historicidade.
Mas a questão que se põe em voga é “o professor não quer realmente saber quem são seus alunos e que não está interessado em saber da realidade de cada um”; acredito que foi uma tentativa para desarmá-los e transpor seus muros, para conhecê-los em sua humanidade, interessar-se por sua história contextualizando seus saberes. Mas ficou pairando no ar se o interesse do professor era real, pois, como uma aluna chega ao final de um ano letivo e afirma que não aprendeu nada, porque ela não entende! Ou ela não sabia ler e escrever? Qual era o problema? Que dilema se esconde por detrás de sua fala?
Por isto, detenho-me em um autorretrato lido: “Ninguém me conhece ao não ser EU!” – será que realmente nós nos conhecemos? As silhuetas presentes no fundo da sala de aula respondem esta pergunta, muitas cores, muitas linhas, muita abstração, os sentimentos estão em profunda transformação, ao meu ver, representam as angústias de cada um.
Tanto alunos quanto professores encontram-se em um dilema bipolar, não sabem como agir, tentam inovar mas avaliam e criam regras retrógradas, será que pontuar alunos “educados”, “gentis”, efetivamente muda a aprendizagem e o desenvolvimento da aula?
Bem, sempre está se buscando alternativas para melhorar o processo educativo, isto é fascinante, pois nada acontece por acaso, tudo é construção.
Será que nós não mascaramos nossas angústias, medos e nos criticamos arduamente quando falhamos? A educação escolar está sofrendo um processo nunca antes visto, existem muitos problemas que não apresentam solução. Parece que nos encontramos num círculo vicioso: se punir alunos melhora a disciplina em determinado momento, torna-os mais revoltados em outros? Se tornar a aula um processo apenas quantitativo e tudo é nota, onde fica a aprendizagem? Mas o que é significativo no contexto atual? Ainda estou buscando entender.

LEÕES E CORDEIROS

“Professores são vendedores de seus alunos para eles mesmos.” Uma afirmação que de antemão assusta, pensar no professor como vendedor, causa estranheza e espanto, o que certamente não deveria ocorrer, pois, a ação docente vende ideias, propostas, formas de pensar, ideologias. O professor, querendo ou não, influência pensamentos e atitudes, nem sempre o que se propõe a trabalhar é o que realmente se ensina e se aprende.
Ao unir três esferas de grande potencial social: governo, mídia e escola; foi possível realizar um diálogo de alto nível, mostrando como as relações são frágeis, o quanto uma envolve-se na ação da outra. Vejam bem as medidas governamentais justificam e evidenciam nossas ações, a mídia pode distorcer fatos, inverter noticias e agir de forma sensacionalista dando ênfase ao que mais lhe der audiência e, em contrapartida, temos a escola que também é uma formadora de opiniões, onde os alunos e professores necessariamente são bombardeados por esta gama de informações que transcorrem socialmente.
Vê-se o quanto à linha entre ética, bom senso e corrupção é tênue, são cordeiros que guiam leões, são sonhos e utopias desmantelados pelas injustiças e falta de oportunidade, a educação está em decadência e existem muitos problemas, se encontram muitos culpados; para amenizar as diferenças são abertas cotas para negros, hipossuficientes dentre outros nas universidades, temos o PROUNI que oportuniza o ingresso e exige que o aluno seja aprovado em todas as áreas, mas, e a qualidade também é garantida? Mesmo em cursos pagos sem pertencer às cotas, há qualidade?
Não sei, tenho muitas dúvidas quanto a isto, já vi muitos professores formados em universidades e faculdades de renome que não conseguem desenvolver um trabalho eficiente.
Vê-se que neste meio que mexe com sentimentos e emoções, onde se trabalha com o humano, tudo é instável, nada é garantido e muitas vezes como professores procuramos abordar determinados assuntos a partir de um texto e dentro deste os alunos encontram e enumeram muitos enfoques diferenciados dos quais nem havíamos percebidos e, certamente, saber lidar e aproveitar estas oportunidades gera aulas fecundas de ideias e opiniões, mas se torna difícil se não somos pesquisadores e questionadores contínuos.
De todos os filme sugeridos este foi o que mais me angustiou, e o qual tive mais dificuldades para analisar, talvez veja nele a representação de uma sociedade capitalista decadente em que o individualismo ultrapassa os “muros” do ser humano. Onde o comodismo destrutivo atrai muitos jovens sonhadores na expectativa de uma vida melhor? Em que as oportunidades são ínfimas a aqueles provenientes das classes subalternas; para aqueles que a oportunidade vem do berço, não as consideram significativas.
Quantas vezes o movimento midiático nos impulsionou a acreditar que a guerra era a única alternativa? E tantos cordeiros se escondem por detrás de fachadas, títulos e currículos repletos de “A” e, no que compele a vida não compreendem o social, se asfixiam em teorias e táticas, mas esquecem de olhar que há um mundo, falível, problemático, decadente?
Não podemos nos resignar, abaixar a cabeça e tudo aceitar. Precisamos, certamente, ultrapassar os muros de nossa própria consciência para então, mudar nossas atitudes em sociedade. O filme não tem uma reposta, ele simplesmente nos convida a pensar e repensar neste modelo social e educacional vigente.
Pensar numa relação entre mídia, política, estética e ética dentro deste contexto, é transpor um olhar para o que procura-se vender como produto certo, correto e única opção, escondendo o verdadeiro jogo de poder que se estabelece por detrás disto.

NASCIDOS EM BORDÉIS

A arte geralmente é produzida por artistas que criaram seu nome, apresentam uma forma própria para representar o social, o filme/documentário “Nascidos em Bordéis”, muda um pouco este foco, os artistas são as crianças que delegam um olhar de sensibilidade para a sua realidade, cada um usa uma lente para se ver.
Uma das mais difíceis ações humanas é aprender a ver, despir-se dos preconceitos, retirar regras e padrões culturais e morais que tangem a nossa visão. Muitas vezes olhamos e não enxergamos. Nesta era de instabilidades e pós-modernidade o stress acarreta tantas preocupações que inibem a sensibilidade tornando-a mascarada e aprisionada em concepções pré-determinadas.
Mas é possível ensinar a olhar? Acredito que é possível aprender a ver despindo-se de pré-conceitos e regras, tirando à lógica midiática que define nossos gostos, é preciso procurar tornar o olhar “cru”.
Mas nossa intangível personalidade cria regras sobre o que gostamos, o que consideramos belo, e este “gostar” constrói-se nas três esferas: pessoal, social e cultural. A partir destas percepções acabamos considerando algo belo, bonito. Cabe pensar, artisticamente o que se define sobre belo? Não sei, espero aprender de maneira calma e paulatina.
Voltando ao valor antropológico que o filme traz, ver o diferente nos incomoda, os padrões culturais que nos fazem criar pré-conceitos estão tão arraigados a nossa concepção de vida, de escola, que são difundidos ano após ano, que ao nos depararmos com uma cultura bastante diferente, onde os recursos materiais são ínfimos, a vida transcorre de forma quase pré-determinada, onde muitos não possuem quase nada, nem acesso, nem possibilidades para sair de onde estão. Isto nos instiga a sair da esfera do comodismo, desta zona de conforto e correr atrás da transformação, mudar não basta é preciso refletir sobre as concepções que temos, ir além, desconstruir para construir.
A vida social desenvolve-se a partir de modelos vigentes e transformar as concepções que as pessoas possuem é ousado, pois nem todo mundo está disposto a refletir sobre sua vida e suas influências sociais com outros olhos.
Acredito que a fotógrafa queria ajudar aquelas crianças a perceberem sua realidade a partir de uma outra ótica, retratando o que consideravam importante para elas; ao ver a sujeira, as condições de vida precária, um menino se deu por conta da “imundice” em que viviam comparando-a com outros povos.
Ver o problema, refletir sobre ele, tentar mudar sua vida, buscar alternativas de se encontrar socialmente delega muita ousadia, pois somos, e aquelas crianças são, enquadradas em padrões por morarem em determinado lugar, ou por seus pais terem uma ou outra profissão, muitas vezes, não importa quem somos ou que estamos buscando o que vale é o que a sociedade já determinou.
Num olhar artístico, retratar uma sociedade excluída e deixada à margem; através de um olhar infantil repleto de sensibilidade, emoção, sonhos e desejos, é tentar ampliar o horizonte que estas crianças vivem e mostrar ao mundo que comodismo e assistencialismo não ajudam para mudar esta realidade é preciso trabalhar numa esfera mais complexa e dura agir e sensibilizar. A cada foto havia uma razão subjetiva ao fotógrafo e outra ao observador. Ir a fundo dos problemas sociais é acreditar que a transformação ainda é possível, mesmo que difícil e vagarosa.
Precisamos parar com a lógica de encontrar culpados para os problemas. Se olharmos para as nossas próprias atitudes e tentarmos mudar este paradigma da acomodação, não precisamos de culpados, necessitamos sim, de colaboradores reais.
Dar a oportunidade, mesmo que seja por um tempo ínfimo e uma quantidade mínima de crianças, já é um começo, muitas leis são criadas, sancionadas e impressas, mas não são cumpridas. Que direitos humanos são esses? Que crianças não tem acesso à educação? Precisam trabalhar sem questionar? Que se submetem ao que os modelos sociais definem? Se você é pobre, negro, mulher, homossexual, não tem os mesmos direitos que outros de classe média, brancos, homens? Acredito que houve uma inversão de papéis e valores sociais bastante complexa, onde se retirou a responsabilidade de quem é e passou-se a julgar que tudo é problema do Estado, das políticas públicas. A exclusão continua, porém mascarar com uma nova roupagem não adiante, o problema está aí e ninguém quer se responsabilizar.
Nós, educadores utópicos, como Zana a fotógrafa, queremos transformar estas realidades. Mas será que realmente estamos tendo nosso papel político, temos voz e vez em nossa ação crítica, estamos sendo subversivos em favor de uma mudança qualitativa, ou apenas estamos vestindo nova roupagem com belas palavras e poucas ações?
Neste filme vê-se a produção de um autorretrato como forma de autoconsciência, olhar para si é difícil, pois neste movimento se percebe o quão é belo viver, como existem coisas maravilhosas ao nosso redor tão próximas e ao mesmo tempo tão longe para ser alcançadas, historicamente as injustiças mantiveram-se e mantêm-se. Este é o mesmo movimento que fazemos ao nos pensar como professores do século XXI.

O SORRISO DE MONALISA

Padrões, tudo é ou deve ser padronizado? A beleza feminina foi padronizada, a educação foi regrada a partir de padrões comuns, as formas de ação social são padronizadas, de certa forma até ideias e pensamentos entram neste mesmo contexto, tudo vira modelo a ser seguido, tudo é padronizado!
Neste ínterim o que é arte? O que é apreciar a obra? Será que só o que foi socialmente delegado como belo e segue padrões pré-determinados é arte? Não! Acredito que arte não se define - se questiona, os padrões socialmente difundidos enaltecem uma determinada visão para a apreciação, ao meu entender, é preciso fugir do comodismo e mostrar que a arte ultrapassa regras e barreiras. O mundo é composto por expressões artísticas.
Não basta estar bem informado sobre uma obra e seu autor, é preciso olhar e ver, analisar o contexto, contemplar e se maravilhar.
Aí entramos no filme O Sorriso de Monalisa, como um dos personagens disse: “aparentar estar feliz, não define eventualmente felicidade”, conhecer técnicas e contemplar as obras de arte conforme os padrões da década de 50 regrada por normas ditatoriais, onde a perspectiva é pré-definida, talvez seja possível. Mas hoje há regras para se apreciar uma obra?
Os padrões que envolvem a apreciação, mudam conforme o mundo muda; mas isto me incomoda, precisamos seguir regras e formas para nos contemplar diante das maravilhosas criações artísticas?
Gosto e apreciação, às vezes se confundem quando afirmamos que gostamos de uma tela e não de outra, e caímos no senso comum quando dizemos que está é mais bela que outra, por apresentar formas regradas, trabalhar de forma técnica com luz e sombra e outra ser disforme, com “manchas e borrões”.
A tentativa da professora de História da Arte no filme foi sair daquele padrão difundido ano após ano e ver outras obras, de autores desconhecidos e não renomadas, instigando-os a pensarem que muitas coisas podem ser arte, depende do olhar de cada um.
E esta tentativa nos faz pensar em subversão, uma palavra bastante “dura” em plena década de 50, gerir a mudança, no pós-guerra é um trabalho árduo, pois o movimento midiático trabalhou em prol de fazer com que a “mulher” que tinha saído do lar para sustentar a família retorna-se e devolve-se seu trabalho ao esposo. Este também não é um movimento de retrocesso e submissão?
A guerra retirou o “homem” do lar e as mulheres tiveram que deixar seus filhos e realizar a manutenção social, quando a guerra acabou cada um deveria voltar a cumprir seus “papéis”. Isto não é tão simples, quando a mulher percebe que pode agir, interagir e transformar não necessita estar submissa aos homens.
Mas a educação, tentava manter um status quo, ultrapassado e arraigado a uma gama de informações impróprias e descoladas das mudanças que começam se ver presentes na sociedade. Pensando naquela professora dita “subversiva” tentar fazer o aluno pensar, compreender e agir a partir de suas inquietações e impressões é pôr em dúvida o modelo educacional vigente.
E a solução encontrada pela escola, não é bastante comum para nós? Quem tenta buscar a mudança, sair do estático e delegado ano após ano, incomoda, esta fora das regras e padrões estabelecidos?
Vivemos sob regras e padrões, será que a arte precisa se aprisionar a estes também?

segunda-feira, 13 de julho de 2009

Ser professor no contexto atual... reflexões


A sociedade da qual fazemos parte, destaca-se pela busca constante do conhecimento e pelas transformações que constituem nossa vida social e educacional, pensar nas diferentes formas e linguagens que constituem a educação é desafiador, por isto, será feita uma pequena aproximação de algumas das concepções educacionais dos mais diferentes pensadores e com os quais acredito que é possível ser e fazer a mudança.
Antes de pensar em formação, é de grande valia pensar no que um físico escreveu sobre a realidade na qual estamos vivendo, a partir deste ponto será pensado o contínuo processo de mudanças e aprendizagens na atualidade:
“As últimas duas décadas de nosso século vêm registrando um estado de profunda crise mundial. É uma crise complexa, multidimensional, cujas facetas afetam todos os aspectos da nossa vida – a saúde, e o modo de vida, a qualidade do meio ambiente e das relações sociais, da economia, tecnologia e política. É uma crise de dimensões intelectuais, morais e espirituais; uma crise de escala e premência sem precedentes em toda a história da humanidade. Pela primeira vez, temos que nos defrontar com a real ameaça de extinção da raça humana e de toda a vida do planeta.”(CAPRA, Fritjof. Ponto de Mutação. Círculo do Livro: São Paulo, 1982, p. 19)
O presente trecho foi extraído do livro Ponto de Mutação, que já possui quase três décadas desde seu lançamento, e nos alerta o quanto a vida esta alterando-se e como é necessário rever determinados padrões e agir de maneira consciente tanto no âmbito social, educacional/pedagógico e psicológico. Não seremos tão pessimistas em pensar que a raça humana está se extinguindo, mas é válido lembrar que as concepções morais e éticas estão se alterando.
Mas a principal questão se põe em voga é: como ser professor no século XXI? Simples, difícil, complexo? Sim e muito mais, é imprescindível estar em constante aperfeiçoamento, conhecendo as múltiplas teorias e leis que regem a educação, assim vamos falar sobre alguns pensadores e suas propostas à educação.
A epistemologia genética de Jean Piaget pode ser o ponto de partida para compreender que a educação é uma construção. Conforme as palavras do próprio pensador “a inteligência humana somente se desenvolve no indivíduo em função de interações sociais que são, em geral, demasiadamente negligenciadas” (Piaget, 1967).
Segundo o mesmo toda aprendizagem se dá através da construção, sendo grande parte do conhecimento construído através do esforço em compreender o mundo que o cerca dando-lhe significados, ou seja, constitui-se em um processo de organização, assimilação e adaptação dos conhecimentos na estrutura cognitiva. Esta proposta educativa busca desenvolver o ser humano em sua plenitude, passa por diferentes processos para interagir com o meio ambiente externo. Trabalha com o ser humano em um viés de totalidade, já está demonstrando que o conhecimento fragmentado está ultrapassado e a lógica de que o professor está “pronto” ao concluir algum curso de formação não existe mais.
Num segundo momento pode-se pensar em Lev Vygotsky, que desenvolveu uma teoria parecida sobre a mediação sócio-construtivista, nesta busca-se os princípios da integração ultrapassando as barreiras da individualidade, do egocentrismo, para admitir que seja no âmbito social que se faz o ato de aprender. Buscando a ação-reflexão contínua, oportunizando um ato educativo mais lúdico, dinâmico e significativo. Sua teoria visa à compreensão do ser humano como ser histórico, mediado pelas influências e compreensões sociais.
O ser humano cria signos (instrumentos internos que auxiliam na construção da aprendizagem) e significados para constituir seu ato aprendente. A aprendizagem se dá pelo sistema simbólico, e o fato de construir e reconstruir os sistemas simbólicos, faz com que o ser humano seja um ser histórico-social, pois ao criar sua cultura ele cria a si mesmo. Falar sobre o erro para Vygotsky é relacionar com a possibilidade de melhorar, por isto o ato interativo entre colegas pode ser o impulsionador de ideias e aprimoramento de conhecimentos. Vale lembrar do valor do brinquedo em sua teoria que cria zonas de desenvolvimento proximal, à medida que coloca a criança diante da vivência de situações cotidianas, bem como destaca que a aprendizagem da escrita inicia muito antes da escolarização. Conforme as palavras do próprio autor:
“A verdadeira comunicação humana pressupõe uma atitude generalizante, que constitui um estágio avançado do desenvolvimento do significado da palavra. As formas mais elevadas da comunicação humana somente são possíveis porque o pensamento do homem reflete uma realidade conceitualizada.” (Vygotsky)
Outro pensador que estudou a educação com uma ótica da construção popular, respeitando a historicidade tanto de crianças quanto jovens e adultos, foi Paulo Freire, suas ideias e propostas educacionais vão de encontro com a lógica de um professor aprendende, pois o mundo está em transformação e por isto o docente necessita estar mudando sua forma de trabalho constantemente. Quem aprende ensina e quem ensina aprende, o professor torna-se mediador, humilde e consciente de suas limitações. Conforme o próprio Freire, nós devemos pensar num novo professor, mediador do conhecimento, sensível e crítico, aprendiz permanente e organizador do trabalho na escola, um orientador, um cooperador, curioso e, sobretudo um construtor de sentindo. Sua proposta envolve tanto o ato social, político e de construção alfabetizadora popular.
Continuando com estas compreensões pode-se falar de Edgar Morin, que busca alguns saberes básicos para que o professor se constitua como ser aprendente, o saber é mutável e todo e qualquer educador deve transformar seus pontos de vistas conforme o mundo vai se alternando, é preciso tornar o conhecimento pertinente e significativo.
E enfim, uma autora que realiza um resumo claro de todas estas ideias é Tânia Marques, que nos convida a refletir sobre a importância do ato educativo: O quê? A quem? Para quê? Por quê? Ensinar. Tornando o trabalho do professor condizente com as necessidades dos educadores, sendo estes inclusos no âmbito social.
Estas foram algumas compreensões importantes obtidas através da visualização do vídeo “Ser professor no contexto atual”, considero que a prática educativa pela qual passo diariamente é um misto de dúvidas, análises e reformulações contínuas, sofro por não trabalhar de maneira atrelada a determinados conteúdos como o processo educativo exige, e sim, busca inter-ligar múltiplos saberes através do interesse que neles encontro e do significado social que eles possuem, considero as opiniões dos autores citados de grande valia, pois falar em aprendizagem é falar em mudanças, crescimentos e trocas, somos seres sociais e devemos estar comprometidos com a nossa aprendizagem, sendo esta alterável e contínua.
Jésica Hencke

domingo, 5 de julho de 2009

Portfólio... uma nova forma de fazer educação/avaliação

Todo curso acadêmico que se inicia configura-se em um grande desafio para a nossa constituição como seres humanos comprometidos com o fazer educação e o auto constituir-se como um sujeito de aprendizagens, trata-se da possibilidade de ver, rever e compreender o conhecido e o não conhecido. Este blog será constituído de ideias, dúvidas e pensamentos que permearão os quatro anos deste curso: Artes Visuais, modalidade EAD (Educação a Distância), ministrado pela UFRGS (Universidade Federal do Rio Grande do Sul).
Para aprender é imprescindível um movimento constante de ação-reflexão-ação, ou seja, a práxis pedagógica - educativa, pois estamos na era da informação, tudo é conectado e acessível a milhões de pessoas em frações de segundos, porém a escola em sua égide manteve-se quase inalterada e o processo avaliativo, muitas vezes esteve engessado a uma postura rígida e pré-concebida através de provas objetivas, mas neste estilo de instrumento é possível compreender o processo de aprendizagem dos educandos? Acredito que não, pois a prova objetiva solicita uma resposta certa, finalizando o estudo percorrido.
Sendo assim, este portfólio em forma de blog tem a intenção de registrar o meu percurso como acadêmica, minhas dúvidas, angústias, avanços sobre os conceitos estudados, como integrante deste processo pretendo demonstrar continuamente minha trajetória como estudante de arte e futura arte-educadora.
Como sou professora, preciso compreender o processo em que me inseri ao fazer parte deste curso, somos alunos da primeira turma na modalidade EAD, e é necessário que saiamos da esfera da avaliação quantitativa para irmos em direção a um processo emancipatório de avaliação, ou seja, a qualitativa e auto-reflexiva.
O portfólio constitui-se em uma forma criativa de avaliar, pois, vê-se de maneira processual o desenvolvimento da aprendizagem, como cada um compreende os assuntos desenvolvidos no início do curso e como a visão vai se ampliando e tornando-se mais crítica e coerente a partir das compreensões e aprofundamentos dos assuntos estudados.
Quando se tem um caderno, faz-se apontamentos escritos, desenhos, sinais múltiplos que constituem as dúvidas, os pontos dos quais discordamos, percebe-se quando o lápis é pressionado em virtude das angústias, medos, ansiedades e crenças que não querem ser alteradas. Neste campo virtual estas pequenas peculiaridades são perdidas, mas a ênfase mais importante é obtida, as ideias. Assim sendo, dei uma abertura singela de como meu portfólio irá se constituir, acredito que com o decorrer dos Componentes Curriculares (cadeiras), leituras realizadas e debates nos fóruns, conseguirão ampliar meu campo de visão e registrar continuamente minhas aprendizagens.
Para mim é um desafio fascinante ir registrando paulatinamente as dúvidas e compreensões dos fóruns em que participo e dos textos que leio, das pesquisas que realizo, certamente será o lugar de descobertas, reflexões e mudanças de concepções em minha construção sócio-pessoal.

terça-feira, 30 de junho de 2009

Iniciando... alguns traços sobre arte...


“Imaginar é mais importante do que saber, pois o conhecimento é limitado, enquanto a imaginação abarca o universo.” (Albert Einstein)

Arte, tantas travessuras contempladas por esta palavra no imaginário infantil, quantos sonhos constituídos e constituidores de identidades: brincar, expressar-se corporalmente, ter um corpo e conhecê-lo. Trata-se da capacidade humana de aplicar e interagir com diferentes proposições, expressão estética de sensações e ideias, o desenvolvimento das mais complexas habilidades do conhecimento humano.
Ana Mae Barbosa, é uma das maiores pesquisadoras sobre o campo de arte no Brasil, ela propõe um trabalho escolar contextualizado e integrado, ou seja, não se trabalha arte somente pela técnica, mas sim, pela sua historicidade, possibilitando ao aluno um momento de produção, análise e crítica de sua “obra” e uma re-formulação da mesma. Este movimento também pode ocorrer através da apreciação das obras de diferentes artistas.
Sem sombra de dúvidas o mais belo, misterioso e nebuloso campo do conhecimento humano é o da arte. As expressões artísticas, são amplamente difundidas e extremamente complexas, não pode ser definida, pois é ação, supõe movimento e alteração, pode ser tanto aprendida como ensinada.
Por isso a arte deve permanecer nos currículos escolares, como diz Elliot Eisner, ela possui conteúdo, e sua aprendizagem compreende muito mais do que habilidades para utilizar diferentes materiais artísticos. O docente tem um papel imprescindível, não é reprodutor de técnicas é um incentivador exigente conhecedor da arte e pesquisador. Ele assegura que o trabalho em arte deve ser desenvolvido a partir de algumas disciplinas especificas: história da arte, produção de arte, critica de arte e estética.
É através da arte que a humanidade se expressa, sem restrições, seus sentimentos e emoções. A arte envolve o corpo, a imaginação, a criação individual e coletiva, reflete sobre possibilidades de produção e compreensão do real. O ensino da arte viabiliza a produção, a crítica, a história e a estética. Por isso constitui-se em um ato vital.
Seguindo esta forma de raciocínio Vicent Lanier, lembra que é preciso devolver a arte para a educação, é importante destacar que nem toda a produção artística desencadeia uma resposta estética, mas, apesar disto, produz um crescimento pessoal, sugerindo uma ampliação dos horizontes de criação artística, valendo-se da cultura local e regional, bem como do contexto escolar, valorizando as experiências artísticas e estéticas dos alunos.
A sociedade atual enfrenta uma gama infundada de problemas, constituindo-se na sociedade do espetáculo e do consumo. O que se privilegia na atualidade são os valores disseminados pela mídia. Os problemas apresentam-se tanto no campo empregatício (vive-se a real crise do emprego, ou a inexistência deste), quanto à questão da globalização e do neoliberalismo, o que acarretou uma relação de consumismo com relação a escola. Alunos são clientes, imaginação e criatividade são futilidades. O humano ficou à margem, o coletivo está abafado pelo individualismo e o consumismo sobrepõe-se ao social, sobre o convívio entre os “iguais”.
Nesta linha de raciocínio, encontra-se Daisy Maria Barella da Silva, que fala e critica todos os problemas enfrentados pelo ensino de arte nas escolas, destacando a estrutura falível de um paradigma moderno em educação, que privilegia a livre expressão, simplesmente por considerar a arte uma disciplina sem conteúdo.
O que se percebe é a necessidade de uma nova organização do trabalho escolar, uma nova relação com o espaço cultural e uma nova concepção do conhecimento, segundo Nóvoa é preciso tornar a escola um lugar de desenvolvimento e aprimoramento do fazer e do compreender criador e criativo.

domingo, 28 de junho de 2009

Inclusão... reflexões


Na vida sempre há um caminho... é preciso saber qual seguir...


Pinceladas sobre Inclusão


Fala-se na atualidade muito em educação especial, educação para a inclusão ou integração de alunos com necessidades educativas especiais dentro do âmbito escolar básico, porém pouco se observa de iniciativas públicas e coerentes com a proposta abarcada pela Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9394/96, pois, antes desta não havia leis que regulamentavam e, em si, “obrigavam” a disponibilização de uma escolarização para todos, sem exceção de raça, cor, etnia, grupo sanguíneo, fator Rh positivo ou negativo, síndrome cromossômica e outros.
O maior impasse não são os problemas físicos e/ou mentais, mas, por sua vez, a pior síndrome é o preconceito, aquele que martiriza e desmoraliza qualquer auto-estima, a família sente-se acuada e retraí-se, cai naquela história de que esta é somente sua responsabilidade, ou, por outro lado, abandona seus filhos e os excluí.
Uma boa maneira de olhar para a escola e a sociedade, é através de um belo livro escrito por José Saramago “Ensaio sobre a Cegueira”, que abarca uma reflexão profunda sobre uma sociedade em que todos perdem a acuidade visual e se tornam cegos, esta cegueira inicia aos poucos em um instante de descuido em um e outro sinal na rua, porém cada incidente vai causando problemas maiores, os governadores tentam recolher os cegos e confiná-los em grandes prédios, manicômios, quartéis abandonados, alimentando-os de maneira rarefeita, até que um dia, todos percebem que convivem carnalmente com a “podridão” da humanidade, os piores desejos são manifestados e uma única pessoa, que incrivelmente não ficou cega, vê e sofre com a imundice da “razão” humana.
É uma boa metáfora para refletir-se perante uma escola que eleva os padrões da modernidade, tentando transformar seus alunos em objetos idênticos, homogêneos, padronizados. Uma grande falácia por sinal, pois assim transmite, exatamente esta palavra, conhecimento que eram prementes de um padrão clássico de educação, aprendia-se apenas o que era cabível aos mecanismos de manutenção de uma mesma ordem social de educação, o “status quo”.
Em sua égide o movimento deveria ter sido alterado pois não existiria inclusão, se não houvesse a exclusão inicial, mas sem delongas é preciso falar precisamente da educação especial que vivenciamos, pois, filosoficamente e sociologicamente existem boas argumentações e pesquisas, mas no campo da possibilidade estamos engatinhando vagarosamente.
A cegueira a qual se refere José Saramago, não é aquela congênita e nem adquira, mas é a cegueira de conhecimento, do social, mas será que é preciso partir do extremo para conseguir-se alterar a sociedade?

“Não encontrou nada na córnea, nada na esclerótica, na íris, nada na retina, nada no nervo óptico, nada em parte alguma. Afastou-se do aparelho, esfregou os olhos, depois recomeçou o exame desde o princípio, sem falar, e quando outra vez terminou tinha na cara uma expressão perplexa. Não lhe encontro qualquer lesão, os seus olhos estão perfeitos”. (p. 23 – SARAMAGO, José. Ensaio Sobre a Cegueira. São Paulo: Companhia das Letras, 1995)

Agora cabe refletir na esfera das micro-relações, como está sendo desenvolvido o processo de reformulação educacional para abarcar os problemas gerados ou não por esta inclusão tardia, e, certamente, pouco comprometida com a melhoria da educação.
A Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional 9394/96 em seu capítulo V, artigo 58, realiza uma explanação simples, porém complexa, referindo-se a quem é esta “clientela”, delegando as responsabilidades para a instituição educacional falível que ainda procura-se sustentar nesta época problemática:

“Entende-se por educação especial, para os efeitos desta Lei, a modalidade de educação escolar, oferecida preferencialmente na rede regular de ensino, para educandos portadores de necessidades educativas especiais.
§ 1º Haverá, quando necessário, serviços de apoio especializado, na escola regular, para atender às peculiaridades da clientela de educação especial.
§ 2º O atendimento educacional será feito em classes, escolas ou serviços especializados, sempre que, em função das condições especificas dos alunos, não for possível a sua integração nas classes comuns do ensino regular.
§ 3º A oferta de educação especial, dever constitucional do Estado, tem início na faixa etária de zero a seis anos, durante a educação infantil” (BRASIL. Lei de Diretrizes e Bases da Educação Nacional. Lei 9394/96. Brasília, DF: Senado Federal, 1996.)

A lei, por via de regra, está dada, agora está nas “mãos” das escolas e suas mantenedoras criarem estratégias e políticas públicas que possibilitem um efetivo trabalho proporcionando desta maneira, a verdadeira inclusão, tem-se a pretensão de trabalhar com o âmbito da eqüidade, compreendendo e não tolerando as diferenças, articulando com os múltiplos saberes e constituindo um currículo real e aplicável para todos aqueles que compõem a escola. É preciso se adaptar, porém, inevitavelmente está adaptação pressupõe o diálogo, o erro, a reflexão e uma nova ação.
Este diálogo não deveria ser reservado e realizado apenas quanto à educação especial, mas deveria ser prática cotidiana da escola, para lidar em todas as situações, problematizando-as, alavancando hipóteses, confirmando ou desmistificando teses.
Historicamente deixou-se os diferentes, deficientes, mal formados, segregados em instituições especiais para este fim, hoje, não é admissível tal crueldade, porém, será que a inclusão que vem sendo feita, não é uma maneira de mascarar esta herança discriminatória?
O grande “boom” ocorreu no ano de 1994, em uma conferência mundial que proclamou a urgência de alterar a maneira de lidar com aqueles sujeitos que eram e ainda são “portadores” de necessidades educativas especiais, surgiu então um documento primordial na reformulação deste quadro à conhecida “Declaração de Salamanca”.
Passaram-se já uma década e pouco alterou-se, onde estão os problemas? Como mudar este paradigma educacional excludente? Perguntas germinam e crescem a olhos nus, mas alternativas possíveis são poucas e microscópicas. Este parece o panorama de um olhar desolado que almeja o fim da história, não é, bem pelo contrário procura entre as brechas e as falhas possibilidades de reinventar a escola, em um campo do diálogo e da construção sócio-cultural. Talvez não apresente-se pistas e repostas, mas pinceladas de um mapa de dúvidas, convites e procuras para refletir.
Pois traçar possibilidades no plano de políticas públicas enrijecidas sobre o viés da exclusão, é para muitos, incômodo e desolador. Não pretende-se valer da hipocrisia, adentrado os portões das escolas com alunos considerados deficientes (não em um sentido pejorativo, pois eles não portam uma deficiência e sim a possuem), mas possibilitar a estes o acesso ao ensino regular em uma classe regular, sendo que o professor regente possua um professor que lhe auxilie em seu trabalho, pois, se a educação brasileira estivesse trabalhando e formando docentes para lidar com a diversidade, um grande passo já teria sido dado, mas a política educacional ainda prima o viés moderno, em que procura submeter as diferenças a um ideal homogêneo de atuação.
Da mesma maneira, existem casos sérios de deficientes mentais que dificilmente conseguirão ser incluído em uma classe regular, mas, aqueles que o acesso a está é possível, certamente devem ser incluídos, realizando os trabalhos propostos de maneira integrada e coletiva, respeitando suas limitações e incentivando suas possibilidades.
A escola que trabalha com a diversidade, possui um currículo flexível, exigindo e definindo a todos objetivos comuns, porém a maneira que cada aluno demonstrará para alcançar tais objetivos é diferenciada, deve-se trabalhar com as potencialidades, desafiando-os, ao invés de enaltecer as dificuldades.
A escola inclusiva deve estabelecer um diálogo continuo entre pais, alunos e professores, juntamente com uma equipe de apoio, “os conhecidos especialistas”, não faz-se jus de que esta é a melhor maneira de agir, mas o docente, bem como a família, precisa ser auxiliada no esclarecimento de dúvidas e de estratégias para lidar com determinadas crises, dificuldades graves destes alunos “deficientes”. Exemplificando, um aluno cego não possui deficiência mental, mas historicamente fora segregado a condição de alguém que não aprende, porém, se mudar o enfoque do modelo de aprendizagem incluindo este aluno num mundo tátil e audível, o professor precisará conhecer o Braile e para isto um “facilitador” da inclusão seria necessário, bem como cursos contínuos de formação e aprimoramento docente.
Será que não é preciso rever o conceito de sociedade que temos, tornando-a mais inclusiva e menos segregadora?
A inclusão é uma questão sócio-político-cultural, é preciso elaborar políticas públicas que contemplem um novo olhar para o social, um olhar de esperança que acredite nos potenciais de cada um, vendo-os como diferentes e únicos.

“Por que foi que cegamos, Não sei, talvez um dia a gente chegue a conhecer a razão, Queres que te diga o que penso, Diz, Penso que não cegamos, penso que estamos cegos. Cegos que vêem, Cegos que, vendo, não vêem.” (SARAMAGO, p. 310)

Está frase sintetiza o problema da educação inclusiva, existem poucas possibilidades, pois os recursos são rarefeitos, os professores estão despreparados, as escolas não apresentam infra-estrutura mínima, as leis são verticalizadas e impostas, mas a nossa cegueira impede o movimento inclusivo, sabe-se que não é, nem está sendo fácil, mas é preciso além de boa vontade interesse dos governantes e humildade para aprender no dia a dia.
Jésica Hencke

quinta-feira, 25 de junho de 2009


“O universalismo que queremos hoje é aquele que tenha como ponto em comum a dignidade humana. A partir daí, surgem muitas diferenças que devem ser respeitadas. Temos direito de ser iguais quando a diferença nos inferioriza e direito de ser diferentes quanto a igualdade nos descaracteriza.”
Boaventura de Souza Santos
O que é? O que é?
Gonzaguinha
Eu fico
Com a pureza
Da resposta das crianças
É a vida, é bonita
E é bonita...
Viver!
E não ter a vergonha
De ser feliz
Cantar e cantar e cantar
A beleza de ser
Um eterno aprendiz...
Ah meu Deus!
Eu sei, eu sei
Que a vida devia ser
Bem melhor e será
Mas isso não impede
Que eu repita
É bonita, é bonitaE é bonita...
E a vida!E a vida o que é?
Diga lá, meu irmão
Ela é a batida
De um coração
Ela é uma doce ilusãoHê! Hô!...
E a vidaEla é maravilha
Ou é sofrimento?
Ela é alegria
Ou lamento?
O que é? O que é?
Meu irmão...
Há quem faleQue a vida da gente
É um nada no mundo
É uma gota, é um tempo
Que nem dá um segundo...
Há quem fale
Que é um divino
Mistério profundo
É o sopro do criador
Numa atitude repleta de amor...
Você diz que é luxo e prazer
Ele diz que a vida é viver
Ela diz que melhor é morrer
Pois amada não é
E o verbo é sofrer...
Eu só sei que confio na moça
E na moça eu ponho a força da fé
Somos nós que fazemos a vida
Como der, ou puder, ou quiser...
Sempre desejada
Por mais que esteja errada
Ninguém quer a morte
Só saúde e sorte...
E a pergunta roda
E a cabeça agita
Eu fico com a pureza
Da resposta das crianças
É a vida, é bonita
E é bonita...